A Moça da revista: O lápis me ensinou a escrever com os olhos
Olhar doce...
Com ar de menina
Mas um brilho de Mulher...
Eu precisava treinar meu traço.
Abri a revista, procurando algo que me inspirasse.
Folheei, folheei as páginas quando, numa virada, avistei a esta bela moça, com olhar sobre os ombros. Que linda — pensei.
Na hora puxei meu lápis e a sulfite a me esperar e rabisquei o meu olhar sobre aquele olhar doce.
O resultado. De 2006.
Naquela época, desenhar era meu refúgio, era oração.
Eu não tinha pressa, nem meta. Só queria traduzir o mundo com lápis, como se cada luz e sombra, cada linha me dissesse algo que as palavras ainda não sabiam dizer.
A moça da revista não era só um corpo bonito.
Ela tinha aquele olhar... Eu me identifiquei com aquele olhar. Me vi nele.
Um olhar misterioso que parecia conter uma história inteira em silêncio.
E foi isso que tentei capturar: não apenas sua forma, mas sua alma. Talvez a minha alma ali também.
Estudar o corpo humano na arte exige mais que técnica. Exige empatia.
Eu cresci vendo os desenhos de minha mãe em brochuras grandes. Anatomia pura. Poses e poses lindas.
Mas o corpo feminino, em especial, carrega séculos de significados, pressões, tabus... e beleza.
Desenhar com respeito a ela é escutar.
Não se trata de copiar curvas, mas de entender emoções.
Naquele dia, sem saber, eu já escrevia com imagens.
Do desenho à escrita | Uma transição natural
Hoje, já não desenho tanto.
Mas escrevo. E percebo que o gesto é o mesmo:
Observar com atenção, imaginar com o coração, traçar com cuidado.
A bela da revista poderia ser hoje uma personagem dos meus contos góticos. Nossa... poderia mesmo... Ela poderia morar num casarão abandonado, ou guardar segredos num diário escondido, porque esse olhar me marcou, e olhares que nos marcam, permanece.
Eu quis eternizá-la. Posso ter errado algumas curvas e proporções. Porém, a essência é a mesma.
Guardei esse desenho como quem guarda uma carta antiga. Ele está numa pasta catálogo, dentro de um plástico. Já amarelado.
Hoje, o revisito com carinho e me dou conta de que ali, naquela tarde de 2006, eu não estava só desenhando... Eu praticava minha escrita. Eu traduzi o olhar da bela da revista em traços, grafite e meu olhar atento para acertar cada pedacinho, pois sem saber, eram palavras não ditas.
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Fico muito feliz com sua visita.
Beijos com carinho, Ma.